segunda-feira, junho 12, 2006

"O pós-parto"

As horas seguintes é que foram verdadeiramente horríveis. De repente, fiquei sozinha na sala de partos apenas com o médico que já me tinha começado a coser sem eu ter dado por isso. O silêncio, depois de todo o barulho que havia segundos antes com tanta gente na sala, parecia muito, muito pesado, e eu ainda não me sentia capaz de o quebrar. Só conseguia pensar na minha filhota, em como ela estaria e para onde a tinham levado e porquê, mas nem sequer conseguia perguntar. Felizmente, pouco depois, o médico, com certeza vendo a minha cara, perguntou-me se estava a doer. Percebi nesse momento que, por acaso, até estava a doer um bocado (devia de estar a passar o efeito da epidural), mas respondi-lhe logo que não e aproveitei o momento de ter recuperado a fala para lhe perguntar pela minha filha. Foi então que ele me explicou que ela tinha engolido secreções durante o parto e que por isso estava muito molinha, mas que tinha a certeza que ela ia ficar muito bem, porque quando saiu dali, já tinha um indíce de Apgar muito bom (7; ao primeiro minuto tinha sido 5) e já ia a gemer, o que, segundo ele, era um óptimo sinal. Falei-lhe da bactéria streptoccocus B e ele assegurou-me que eles sabiam disso, estava tudo na minha ficha e que, com certeza, a menina ia ter de ficar uns dias no hospital a antibióticos, mas que ia ficar bem. Disse-me também que a tinham levado para o 4º andar, para a Neonatologia, e que eu não a podia ir ver até me fazerem "o levante" lá para as 18 e meia, 19 horas.

Foi sempre muito simpático (aliás, desde aqui, foram sempre todos muito simpáticos, auxiliares, enfermeiras e médicos), mas não me conseguiu acalmar muito. Apesar de parecer bastante sincero em tudo o que disse, eu só ia descansar quando pudesse ver a minha filha, ou, pelo menos, falar com o papá para que ele me dissesse como ela estava. (Nunca duvidei que o papá e os avós a tinham visto sair e não descansassem enquanto não soubessem que ela estava bem.)

O médico ainda demorou algum tempo a pedir-me desculpa por causa de um ponto que teve de ficar esticado, o qual ele disse que era capaz de me doer muito nos próximos dias e eu fartei-me de lhe dizer que não tinha importância, porque não tinha mesmo. Naquela altura, só queria saber da Daniela e mais nada. (O ponto acabou por não doer nada.) Antes de se ir embora, voltou a dizer-me que a menina ia ficar bem e prometeu-me que me ia ver ao 5º andar (obstetrícia) por volta das 19 e meia. (Não faço ideia se ele sempre apareceu, porque eu não estava lá, e só me lembrei disto dias mais tarde.)

Veio uma auxiliar que me levou para a sala de recobro, mas não sabia nada da minha pequenita. Uma enfermeira foi lá explicar-me que ia ficar ali por algum tempo, e que por volta das 15 e meia, 16 horas, alguém me ia buscar para o 5º andar. Não me devia tentar levantar por causa da epidural e dos pontos e dentro de pouco tempo, me iam levar alguma coisa para comer. Perguntei-lhe pela minha pequerrucha e se não podia ver o maridão, mas ela também não sabia de nada, só que tinha sido levada para o 4º andar e não era permitido os papás entrarem na sala de recobro.

Ela saiu e, enquanto estive sozinha, comecei por tentar enviar boas energias para a minha filha, para a proteger e fazer com que ficasse bem. Fiquei espantada ao perceber que a conseguia visualizar na perfeição, cada pormenorzinho do rosto dela, apesar de só a ter visto por instantes em cima da minha barriga e de a vislumbrar por entre o pessoal do hospital. (Tive a confirmação disso mais tarde quanto o maridão me mostrou as fotos que tinha tirado e quando, finalmente, a pude ir ver.)

Passei as 4 horas e tal seguintes entre chorar baixinho e tentar controlar-me para continuar a enviar boas energias para a Daniela. Entretanto, várias enfermeiras passaram por ali, algumas para saber como eu estava, outras para ver como estava a ficar a sala e os móveis novos (aparentemente, a sala estava em remodelações). Três delas apanharam-me a chorar, as duas que tinham ficado uma de cada lado durante o parto e a novinha, e foram muito simpáticas, embora não me tenham dito nada sobre a minha filhota. (Ninguém me disse nada, cada vez que eu perguntava, parece que fugiam, e a única resposta que tinha era "o pai já lá foi acima vê-la e isso é um bom sinal".) No entanto, essas três tentaram quebrar um pouco as regras e, visto não estar ninguém comigo na sala de recobro, foram lá fora ver se o papá lá estava para o deixar entrar um pouquinho. Isso não aconteceu porque nessa altura o papá estava precisamente lá em cima com a nossa linda. Apesar de ficar triste por não o ter podido ver, fiquei contente por saber que ele estava com a nossa filha, que ela não estava sózinha.

É verdade que achei estranho todas as enfermeiras saberem que o papá já tinha visto a pequerrucha e que já tinha até estado com ela e, no entanto, nenhuma sabia, e, aparentemente, não podia telefonar para saber, como estava a menina. Pedi-lhes muitas vezes que o fizessem, mas aí, elas saíam sempre quase a correr, a murmurar a desculpa do costume. Foram umas horas horríveis. Continuava sem ter uma noção precisa do tempo, mas pareceu-me estar ali há uma eternidade, e sem saber o que mais queria.

Ainda ali, uma auxiliar foi levar-me umas bolachas maria e um sumo e ensinou-me a comer sem me levantar. Percebi então que tinha muita sede, mas fome não tinha nenhuma. Obriguei-me a engolir 2as bolachas porque a senhora me tinha dito que não me deixavam ir para cima sem comer. Sabia que era uma "ameaça vã" só para me fazer comer, mas por via das dúvidas, fiz esse esforço.

Mais tarde, a enfermeira novinha e a outra foram lá para me limpar um bocado, a novinha sem dizer nada e a outra ainda a reclamar, desta vez com as meninas do 5º andar que já lá deviam estar para me levar para cima. Parece que apanhei mais uma mudança de turno.

1 comentário:

Anónimo disse...

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