segunda-feira, junho 12, 2006

"Olá, filha!"

Por fim, chegámos. A cadeira ficou à porta e o papá levou-me logo à incubadora nº2. Ali estava a minha filhota, cheia de tubos e toda marcadinha, mas linda, linda, linda, e a dormir muito calmamente. Fiquei ali de pé a olhar para ela até o pai dizer que podíamos abrir as portinhas e tocar nela. Toquei-lhe muito ao de leve na carinha e na mãozinha para não a acordar, mas ela agarrou-me logo um dedo com muita força. Fiquei assim a sorrir durante algum tempo até que o tio Rui (irmão do maridão) chegou. Vinha trazer comida para o papá babado e dar-lhe boleia para casa. O papá saiu para ir ter com ele e eu tive de largar a minha princesinha para me sentar um bocado porque tinha começado a ver as coisas um pouco turvas.

Passado um bocado, uma das enfermeiras veio perguntar-me se eu queria pegar na menina. Eu, estupidamente, perguntei-lhe se podia (se não pudesse, ela não tinha perguntado), mal podendo acreditar que ia finalmente ter a minha pequerrucha nos braços. Colocaram-na ao meu colo e assim que o fizeram ela abriu os seus olhos lindos e enormes e olhou para mim. Foi aí que esqueci tudo o resto, já nada importava, a minha filhota estava ali bem juntinha a mim e tenho a certeza que me reconheceu, apesar de tudo. Logo a seguir, ela voltou a fechar os olhinhos, encostou a cabecinha ao meu peito e voltou a dormir. E eu sou a mãe da menina mais linda de todo o universo... :-))))))
"5º andar, cá vou eu" ou "cada vez mais perto"

Fora-me buscar por volta das 17:30, duas raparigas novas, muitos simpáticas, uma das quais me tratou sempre por "princesa". Perguntaram-me pelo meu bebé, disse-lhes que era uma menina e onde estava e desatei a chorar outra vez por ainda não saber nada dela.

Quando saí pela porta, o maridão e os meus pais vieram logo a correr ter comigo. Não era suposto eles estarem ali, mas elas deixaram-nos falar comigo. Já tinha parado, mas desatei a chorar outra vez assim que os vi e perguntei logo pela menina. O maridão e o meu pai disseram-me logo que ela estava bem, que já a tinham visto e que ela estava bem, a minha mãe não parava de dizer que ela era muito linda. Vi que o maridão e a minha mãe também tinham estado a chorar e o meu pai também chorou quando me viu. Pouco depois, disseram que tinham mesmo de me levar para cima e os meus pais fartaram-se de me dizer para não me preocupar, que estava tudo bem com a menina. O maridão pôde ir comigo (já tinha passado a hora das visitas - das 15h às 16h - mas os papás podiam ficar das 15h às 20h).

No 5º andar, fiquei no quarto 5, se não me engano, cama 13. O papá mostrou-me as fotos que tinha tirado à menina e contou-me então o que tinha acontecido desde que teve de sair da sala de partos. Parece que ele voltou para o pé dos meus pais completamente confuso, ainda "mascarado de médico" como a minha mãe diz agora, porque ele não tinha tirado a indumentária que teve de usar na sala de partos. ;-) Explicou-lhes o que tinha acontecido e ficaram os 3 à espera, cada vez mais nervosos (o meu pai a tentar contar piadas para animar os outros 2, apesar de não ter qualquer vontade disso). Finalmente, viram sair uma incubadora rodeada de gente. A minha mãe reconheceu a mantinha verde e branca (porque será?) ;-) que até foi ela que fez e foram os 3 a correr perguntar o que se passava. Disseram-lhes que eu estava bem mas que não podiam ver a menina agora, para irem ter ao 4º andar. Eles foram e parece que viram a menina a ser aspirada pela porta que ficou entreaberta. Puderam entrar depois disso para ver a menina e o primeiro cocó foi feito para a avó. ;-)

Depois de se certificarem que a menina estava bem, voltaram para baixo para saber de mim, mas parece que também não lhes adiantaram grande coisa e, é claro, não os deixaram entrar para me ver. Começaram a passar-se e às tantas parece que só pensavam em entrar ali para dentro à força. Como viram a hora das visitas a passar, o meu pai disse que ia arranjar confusão se não o deixassem falar comigo quando me levassem e acredito que a minha mãe o ajudasse bastante nisso. ;-) Quanto ao maridão, acho que ele só ainda não tinha arranjado confusão com medo que depois me tratassem menos bem. Deve ter sido ainda pior para eles do que foi para mim, porque eu, ao menos, só estava preocupada com a minha filhota...

Enfim, voltaram a levar-me um lanchinho enquanto esperava pelo "levante", pão com manteiga e chá. Novamente, bebi o chá muito agradecida e obriguei-me a comer metade do pão, já que tinha recebido a mesma ameaça: "Se não come, não a deixam ir ver o bebé." (Tenho que me lembrar disto para usar com a Daniela.) ;-)

Finalmente, por volta das 19h, as mesmas 2as raparigas que me tinham ido buscar, apareceram para me ajudar a tomar banho. Foi tudo muito rápido, porque eu tinha pressa, muita pressa. Foi bom sentir-me limpa novamente e foi infinitamente melhor quando perguntei se já podia ir ver a minha menina e me trouxeram logo uma cadeira de rodas. Como o papá ainda estava lá à minha espera, foi ele que me levou. Levávamos uma chucha que lhe tinham pedido e eu ia mais que ansiosa para voltar a ver a minha bebé. Se conseguisse, tinha corrido por ali fora.
"O pós-parto"

As horas seguintes é que foram verdadeiramente horríveis. De repente, fiquei sozinha na sala de partos apenas com o médico que já me tinha começado a coser sem eu ter dado por isso. O silêncio, depois de todo o barulho que havia segundos antes com tanta gente na sala, parecia muito, muito pesado, e eu ainda não me sentia capaz de o quebrar. Só conseguia pensar na minha filhota, em como ela estaria e para onde a tinham levado e porquê, mas nem sequer conseguia perguntar. Felizmente, pouco depois, o médico, com certeza vendo a minha cara, perguntou-me se estava a doer. Percebi nesse momento que, por acaso, até estava a doer um bocado (devia de estar a passar o efeito da epidural), mas respondi-lhe logo que não e aproveitei o momento de ter recuperado a fala para lhe perguntar pela minha filha. Foi então que ele me explicou que ela tinha engolido secreções durante o parto e que por isso estava muito molinha, mas que tinha a certeza que ela ia ficar muito bem, porque quando saiu dali, já tinha um indíce de Apgar muito bom (7; ao primeiro minuto tinha sido 5) e já ia a gemer, o que, segundo ele, era um óptimo sinal. Falei-lhe da bactéria streptoccocus B e ele assegurou-me que eles sabiam disso, estava tudo na minha ficha e que, com certeza, a menina ia ter de ficar uns dias no hospital a antibióticos, mas que ia ficar bem. Disse-me também que a tinham levado para o 4º andar, para a Neonatologia, e que eu não a podia ir ver até me fazerem "o levante" lá para as 18 e meia, 19 horas.

Foi sempre muito simpático (aliás, desde aqui, foram sempre todos muito simpáticos, auxiliares, enfermeiras e médicos), mas não me conseguiu acalmar muito. Apesar de parecer bastante sincero em tudo o que disse, eu só ia descansar quando pudesse ver a minha filha, ou, pelo menos, falar com o papá para que ele me dissesse como ela estava. (Nunca duvidei que o papá e os avós a tinham visto sair e não descansassem enquanto não soubessem que ela estava bem.)

O médico ainda demorou algum tempo a pedir-me desculpa por causa de um ponto que teve de ficar esticado, o qual ele disse que era capaz de me doer muito nos próximos dias e eu fartei-me de lhe dizer que não tinha importância, porque não tinha mesmo. Naquela altura, só queria saber da Daniela e mais nada. (O ponto acabou por não doer nada.) Antes de se ir embora, voltou a dizer-me que a menina ia ficar bem e prometeu-me que me ia ver ao 5º andar (obstetrícia) por volta das 19 e meia. (Não faço ideia se ele sempre apareceu, porque eu não estava lá, e só me lembrei disto dias mais tarde.)

Veio uma auxiliar que me levou para a sala de recobro, mas não sabia nada da minha pequenita. Uma enfermeira foi lá explicar-me que ia ficar ali por algum tempo, e que por volta das 15 e meia, 16 horas, alguém me ia buscar para o 5º andar. Não me devia tentar levantar por causa da epidural e dos pontos e dentro de pouco tempo, me iam levar alguma coisa para comer. Perguntei-lhe pela minha pequerrucha e se não podia ver o maridão, mas ela também não sabia de nada, só que tinha sido levada para o 4º andar e não era permitido os papás entrarem na sala de recobro.

Ela saiu e, enquanto estive sozinha, comecei por tentar enviar boas energias para a minha filha, para a proteger e fazer com que ficasse bem. Fiquei espantada ao perceber que a conseguia visualizar na perfeição, cada pormenorzinho do rosto dela, apesar de só a ter visto por instantes em cima da minha barriga e de a vislumbrar por entre o pessoal do hospital. (Tive a confirmação disso mais tarde quanto o maridão me mostrou as fotos que tinha tirado e quando, finalmente, a pude ir ver.)

Passei as 4 horas e tal seguintes entre chorar baixinho e tentar controlar-me para continuar a enviar boas energias para a Daniela. Entretanto, várias enfermeiras passaram por ali, algumas para saber como eu estava, outras para ver como estava a ficar a sala e os móveis novos (aparentemente, a sala estava em remodelações). Três delas apanharam-me a chorar, as duas que tinham ficado uma de cada lado durante o parto e a novinha, e foram muito simpáticas, embora não me tenham dito nada sobre a minha filhota. (Ninguém me disse nada, cada vez que eu perguntava, parece que fugiam, e a única resposta que tinha era "o pai já lá foi acima vê-la e isso é um bom sinal".) No entanto, essas três tentaram quebrar um pouco as regras e, visto não estar ninguém comigo na sala de recobro, foram lá fora ver se o papá lá estava para o deixar entrar um pouquinho. Isso não aconteceu porque nessa altura o papá estava precisamente lá em cima com a nossa linda. Apesar de ficar triste por não o ter podido ver, fiquei contente por saber que ele estava com a nossa filha, que ela não estava sózinha.

É verdade que achei estranho todas as enfermeiras saberem que o papá já tinha visto a pequerrucha e que já tinha até estado com ela e, no entanto, nenhuma sabia, e, aparentemente, não podia telefonar para saber, como estava a menina. Pedi-lhes muitas vezes que o fizessem, mas aí, elas saíam sempre quase a correr, a murmurar a desculpa do costume. Foram umas horas horríveis. Continuava sem ter uma noção precisa do tempo, mas pareceu-me estar ali há uma eternidade, e sem saber o que mais queria.

Ainda ali, uma auxiliar foi levar-me umas bolachas maria e um sumo e ensinou-me a comer sem me levantar. Percebi então que tinha muita sede, mas fome não tinha nenhuma. Obriguei-me a engolir 2as bolachas porque a senhora me tinha dito que não me deixavam ir para cima sem comer. Sabia que era uma "ameaça vã" só para me fazer comer, mas por via das dúvidas, fiz esse esforço.

Mais tarde, a enfermeira novinha e a outra foram lá para me limpar um bocado, a novinha sem dizer nada e a outra ainda a reclamar, desta vez com as meninas do 5º andar que já lá deviam estar para me levar para cima. Parece que apanhei mais uma mudança de turno.
“O parto“

As enfermeiras voltaram, fizeram-me mais um toque (8 dedos) e a mais velha disse-me que estava na altura de começar a fazer força porque a minha pequerrucha ainda estava um bocado subida e eu tinha de a ajudar a descer. Acenei-lhe que sim, apertei a mão do papá, e ouvi a enfermeira a explicar-me como devia fazer a força e que só o devia fazer quando estivesse a sentir uma contracção. Acenei-lhe mais uma vez que sim, e foi aqui que começou a confusão, pelo menos para mim. É que imediatamente a seguir a isto ela manda-me fazer força, mas... eu não tinha qualquer contracção, por isso, limitei-me a olhar para ela sem saber o que fazer. Ela volta a mandar-me fazer força e eu aí viro-me para a mais novinha, que estava ao meu lado e perto da máquina do CTG e pergunto-lhe se estou a ter alguma contracção. Apesar de tê-las sentido todas até à altura, podia ser que as tivesse deixado de sentir com a excitação do momento. Mas não, ela disse-me que não e tentou dizer isso à outra, mas nesta altura esta já ia lançada num discurso sobre como já tinha tido 2 filhos mas que agora não podia fazer força por mim e sobre como já tinha visto que eu não ia conseguir nem queria colaborar, e, por isso, não ouviu nada.

Fiquei estúpida a olhar para ela, a pensar que ela só se podia estar a passar, mas entretanto, comecei a sentir a chegada de uma contracção e comecei a fazer força, ao que ela me pergunta muito bruscamente o que é que eu estou a fazer. Obviamente, paro repentinamente e ela então diz-me para continuar, que tenho de fazer a força seguida e não só aos bocadinhos... :-S

Pois, eu estive sempre bastante calma, até porque tentei não ter grandes expectativas em relação ao parto, e assim, também não tinha grandes receios. A única coisa que eu esperava era poder confiar por completo na equipa que me ia guiar através do parto e poder contar com ela para me acalmar caso me enervasse. Em vez disso, essa enfermeira sozinha, porque a novinha, coitada, era o 1º dia ali e mal se atrevia a falar, conseguiu "desacalmar-me" por completo. Não que eu tenha ligado aos "não vai conseguir" e "não quer colaborar" dela (apesar de ela os dizer para aí de 10 em 10 segundos), mas porque ela me mandava fazer força aleatoriamente, sem se dar ao trabalho de confirmar se eu tinha alguma contracção ou não, e, de facto, a maior parte das vezes, não tinha mesmo. Tentei dizer-lhe alguma coisa, mas não conseguia falar. Tentei ignorá-la e só fazer força quando sentia que podia, mas não era fácil. Ainda por cima, não podia olhar para o maridão, o que me teria voltado a acalmar grandemente, porque numa das vezes em que o fiz, ela disse-me que se eu continuasse a olhar para ele o mandava embora. Com medo que ela o fizesse, tive então de fazer força também para resistir a olhar para ele no intervalo das contracções.

Entretanto, passado algum tempo nisto, ela disse que elas iam sair um bocado, mas para eu continuar a fazer força, porque ela já tinha visto que eu "só fazia força quando queria e não quando ela mandava" (enfim, sem comentários). O maridão perguntou-me então como eu estava e porque é que não fazia força quando ela me dizia. Expliquei-lhe o porquê e ele ficou ainda mais furioso. Sim, porque ele já estava com vontade de dizer umas boas à enfermeira por causa dos comentários infelizes e agora ainda pior. No entanto, ele não queria dizer nada e estava a controlar-se para ela não se "vingar" em mim nem na nossa filhota.

Não devem ter demorado muito (a julgar pelo facto do maridão não ter saído disparado do quarto à procura delas) ;-) e quando voltaram, felizmente, vinham acompanhadas de mais 4 enfermeiras. Espreitaram todas lá para dentro :-S, todas confirmaram que já se via a cabecinha, mas que ainda estava muito subida, e uma delas veio dar-me a mão do lado esquerdo (o maridão estava à direita) enquanto outra se colocou ao lado dele, perto da minha barriga. As 2as que me estavam a seguir vestiram as batas de plástico e colocaram máscaras e, felizmente, deixei de ouvir por completo a "passada" porque a que estava ao meu lado colocou uma mão na minha barriga para sentir as contracções e foi-me dizendo para fazer força quando lá vinha uma. Concentrei-me apenas nela, mas, apesar de tudo estar a correr melhor nesse sentido, a minha lindona nunca mais descia e eu estava a começar a ficar preocupada com ela.

Finalmente, chegaram 2 médicos (1 médico e 1a médica) e depois de algum tempo a observar a progressão, começaram a perguntar-se se a menina não estaria "invertida". Foram ver e estava mesmo. Então, o médico explicou-nos, a mim e ao pai, que ela em vez de estar a olhar para cima, estava a olhar para baixo e que ia precisar de ajuda, ia precisar de ser puxada para fora porque não estava a descer. Fiquei um bocado triste então, até porque isso significava que o pai tinha de sair.

Desejei que nada de mal acontecesse à minha pequerrucha e depois concentrei-me novamente na enfermeira ao meu lado e na voz do médico que não conseguia ver. O pai saiu por volta das 12:50, e, a partir daí, achei tudo muito rápido. O médico ainda esperou até à última antes de usar a ventosa e depois os fórceps, mas teve de ser mesmo assim. :-(

Eram 13:04 quando a minha pequenita foi "puxada" e "empurrada" cá para fora. Apesar de tudo, e da violência das palavras, esse movimento até foi bastante suave e a sensação muito boa. Colocaram-na em cima da minha barriga, e a "tal" enfermeira não me deixou tocar-lhe, "para não ficar com as mãos cheias de sangue", e afastou-me a mão (mais uma vez, sem comentários). Na altura, no entanto, só me preocupava com o facto da minha menina não se estar a mexer e perguntei porquê. Ninguém me respondeu, mas passados alguns instantes, levaram-na para debaixo da lâmpada na mesinha que já estava preparada para a receber e todas as enfermeiras menos uma e mais o pediatra de serviço, que tinha sido chamado entretanto, foram para perto dela e começaram a tratar dela. Eu só a conseguia ver aos bocadinhos, por entre as batas verdes e brancas do pessoal do hospital. Consegui ver que ela era linda, tal como já tinha visto quando a puseram sobre a minha barriga, mas o importante agora era saber se ela estava bem. Perguntei-o várias vezes e uma enfermeira ou outra lá me vinham dizer que sim, que estava tudo bem, que aquilo era normal, mas não foram lá muito convincentes. Minutos depois ouvi-a gemer, e logo a seguir, passaram-na para uma incubadora de transporte e levaram-na embora.
“Sala de Partos nº 2”

Fiquei na sala 2, a enfermeira mandou-me deitar e começou à procura de uma veia para instalar o catéter. As minhas veias sempre foram um bocado difíceis de encontrar e por isso as duas primeiras tentativas saíram frustradas e fiquei com o braço direito negro durante quase 2as semanas. A terceira foi mesmo de vez, e no braço esquerdo. Ligou-me ao soro, à ocitocina(?) e ao CTG, ajudou-me a ficar de lado, disse-me para não me mexer e perguntou-me se eu ia querer levar epidural. Respondi-lhe que sim e ela saiu para ir buscar o formulário que me informava dos possíveis riscos de levar a anestesia para eu assinar. Quando voltou, li-o entre contracções, mas não havia lugar para assinar. Alguém tirou mal a fotocópia e a parte de trás (que era onde estava o lugar para a assinatura) não existia. A enfermeira explicou-me isto, disse que ia buscar um que estivesse completo, saiu e... nunca mais a voltei a ver... :-S Aparentemente, houve uma mudança de turno às 8h, penso eu.

Não faço ideia quanto tempo ali estive sozinha, mas também não me importei muito. Tinha música e, mais importante, estava a ouvir o coraçãozinho da minha princesinha e passei todo o tempo a cantar-lhe e a falar para ela, essencialmente a dizer-lhe que já estava quase, que muito em breve ela já estaria cá fora e que eu e o pai a íamos cobrir de beijos e carinhos e tudo o mais. Pensava frequentemente se já não seriam 8 e meia para o papá poder entrar...

Finalmente, apareceram outras 2as enfermeiras, que me cumprimentaram e começaram a falar entre si enquanto viam os meus papéis que estavam numa mesa perto da janela. Percebi que era o 1º dia naquele hospital da enfermeira mais novinha e que a outra lhe estava a explicar os procedimentos. Também reparei que o sol já estava alto e tentei perguntar-lhes as horas, mas depois da explicação, elas saíram sem dizer nada e, como eu estava no meio de uma contracção, não consegui perguntar nada.

Passado novamente não sei quanto tempo, elas voltaram, fizeram-me um toque (de 5 a 6 dedos, ouvi 1a dizer à outra) e perguntaram-me se estava tudo bem e se não queria epidural porque o formulário não estava entre os meus papéis. Expliquei-lhes o que tinha sucedido, e novamente antes de lhes conseguir perguntar as horas, elas saíram, voltando, penso que pouco depois, com um formulário completo, que assinei rapidamente, já sem o ler desta vez. Disseram-me que iam então chamar a anestesista e, com mais uma contracção, fiquei sem conseguir saber nada do papá mais uma vez.

Quando elas voltaram pela 3ª vez, disseram que me iam rebentar as águas e assim o fizeram. Foi uma sensação estranha, mas não má. Foi mais um passo para ter a minha filhota cá fora e, por isso, vi-o como uma coisa muito boa. Finalmente, consegui perguntar-lhes as horas (eram 10 e meia) e dizer-lhes que o maridão devia estar lá fora à espera. A mais novinha prontificou-se logo a ir lá ver e dizer-lhe para entrar, mas a outra disse que agora só depois da epidural. Agradeci-lhes e esperei. Não me parece que a anestesista tenha demorado muito, e em breve, lá estava eu toda enroladinha a fazer os possíveis para não me mexer quando vinham as contracções. Entretanto, tive uma surpresa nesta altura: o meu médico apareceu lá para saber se estava tudo a correr bem (ele já não faz partos agora, e foi lá só mesmo para se certificar que eu e a minha Leobinha linda estávamos a ser bem tratadas). Não o cheguei a ver, porque ele não podia ficar muito tempo e chegou mesmo na altura da anestesia, mas ouvi-o, e foi agradável na mesma. Achei muito simpático da parte dele.

Entretanto, lá fora, o maridão e os meus pais estavam bem pior que eu, porque não sabiam de nada e o maridão já estava prestes a entrar por ali dentro à força quando finalmente o foram chamar. Quando ele finalmente chegou ao pé de mim (por volta das 11:15, pelas contas dele), já a anestesia começava a fazer efeito. Continuei a sentir cada contracção e apertava a mão dele cada vez que sentia uma, embora já não me doesse, apenas sentia um incómodo. Mas já não conseguia falar muito e essa era uma maneira de ele também saber quando elas vinham. Estive um bocado sozinha com ele, essencialmente a admirar o modelito dele, que também era bastante giro, em especial os sapatos que eram lindos. ;-) Felizmente para ele, e mais uma vez, tanto a bata como os sapatos eram verdes. :-)
“O pré-parto” ou “daqui já não saio??!!!” ;-)

Dei entrada no serviço de urgência do hospital às 6:17 do dia 16 de Março de 2006. Inscrevi-me e a senhora mandou-me seguir a linha verde no chão, para grande alegria do papá, que é do Sporting. ;-) Chegámos à porta que dá para o bloco de partos e toquei à campaínha. Uma auxiliar veio abrir a porta, sorriu e disse que só podia entrar eu, para já. Despedi-me do maridão e dos meus pais, com um "até já" e lá entrei eu, sentindo um apertozinho no coração, continuando a desejar que fosse "agora", mas ainda bastante calma.

A auxiliar levou-me para uma sala e disse-me para me sentar e esperar pela enfermeira. Não sei quanto tempo esperei, porque a partir daqui perdi por completo a noção do tempo, e não tinha levado relógio. No entanto, penso que não foi muito, porque não me levantei muitas vezes. ;-) A enfermeira chegou, disse-me "bom dia" e mandou-me despir da cintura para baixo, uma tarefa um bocado difícil entre as contracções. Enquanto eu me despia, ela foi-me fazendo as perguntas da praxe sobre medicamentos que tomava ou não, se fumava, bebia, doenças da família... Depois, mandou-me deitar na marquesa que estava a um canto da sala e fez-me um toque. Não me consigo lembrar se doeu ou não, mas já no dia seguinte não conseguia, não faço ideia porquê. Sei que ela me disse que tinha 3 dedos de dilatação e que ainda estava tudo muito atrasado, mas que “daqui já não sai“. Fiz um sorriso de orelha a orelha e perguntei-lhe se o maridão podia entrar para assistir. Ela disse que sim, mas só lá para as 8:30. Disse-me para ir buscar a mala, que tinha ficado com ele, e dizer-lhe para ir tomar o pequeno-almoço e voltar a essa hora. Entretanto, a auxiliar trouxe-me a bata, robe e chinelos do hospital e lá fui eu, linda, com um modelito bastante in, ;-) contar as novidades ao respectivo e aos meus pais.

Voltei à sala onde estava a enfermeira e esta levou-me a uma outra sala, onde me deitou numa outra marquesa, me passou uma gilette pelos poucos pêlos que tinha (já que eu própria andava a fazer a depilação frequentemente desde as 38 semanas de gestação), me deu 2 clísteres e me mandou para a casa de banho ao lado. Quando saí, disse-lhe que estava a sangrar muito e ela deu-me um penso gigante para pôr entre as pernas. Felizmente, já sabia que todos estes procedimentos me esperavam, graças ao relato pormenorizado da mãe da minha afilhada, por isso, pude rir de mim própria e da figura que, com certeza, fiz, no caminho desde essa sala até à sala de partos, com um belo andar de pata-choca, uma mala enorme na mão e a enfermeira ao lado.

contracções

“As contracções” ou “ir ou não ir… eis a questão”

Era ainda dia 15 de Março, 4ª feira, quando senti a primeira contracção "à séria". Eram 22:44 e estava a levantar-me da mesa do restaurante onde nós (eu, papá e Daniela) tínhamos ido jantar com 2 amigos. Estava é a palavra certa porque esta doeu mesmo, de modo que tive que ficar sentada à espera que passasse. Disse ao papá e ficámos à espera da próxima. Fomos ainda a casa dos meus pais para os nossos amigos os cumprimentarem e a próxima contracção foi só às 23:10 e já sem dor novamente. Fomos para casa e para a cama...

Não cheguei a dormir nada. Deitei-me por volta da meia-noite e meia e continuei a controlar as contracções, que voltaram a ser com dor, mas eram ainda muito irregulares, com intervalos de 8 minutos, depois 10, 16, novamente 8, novamente 10... até que às 3:19 começaram a vir com intervalos certos de 10 minutos durante uma hora, depois 3 contracções com intervalos de 8 minutos e a partir de aí de 5 em 5. Acordei o papá de vez (sim, porque também não o deixei dormir muito nessa noite, já que só me sentia bem de pé e a andar, parando quando vinha uma contracção, e ele, quando deu por isso, também já não dormiu nada), e deixámos passar uma hora assim, a conversar sentadinhos na cama (excepto quando eu me levantava para "passear").

As contracções não diminuíram, aliás passaram a ser de 4 e logo a seguir de 3 em 3 minutos e então decidimos ir para o hospital. Fomos tomar banho, ele foi a casa dos meus pais dizer-lhes que estava na hora, pegámos nas malas que já estavam prontinhas à espera, vi se tinha todos os documentos necessários na carteira e lá fomos nós, eu com algumas dores que se aguentavam bem com uns "sopranços" e o papá e os avós aparentemente muito calmos. Eu também estava muito calma, só queria era que estivesse mesmo na hora e que não fosse um falso alarme. De resto, o papá levou o caminho todo a gracejar, como é seu costume, :-) e a viagem foi bastante rápida. O avô também ajudou, é claro, a pisar bem no acelerador. ;-)

Finally

Finalmente, quase 3 meses depois, o relato bem pormenorizado do dia que mudou a minha vida para bem melhor... dividido em vários posts porque ficou muito, mas mesmo muito, comprido.