segunda-feira, junho 12, 2006

“O parto“

As enfermeiras voltaram, fizeram-me mais um toque (8 dedos) e a mais velha disse-me que estava na altura de começar a fazer força porque a minha pequerrucha ainda estava um bocado subida e eu tinha de a ajudar a descer. Acenei-lhe que sim, apertei a mão do papá, e ouvi a enfermeira a explicar-me como devia fazer a força e que só o devia fazer quando estivesse a sentir uma contracção. Acenei-lhe mais uma vez que sim, e foi aqui que começou a confusão, pelo menos para mim. É que imediatamente a seguir a isto ela manda-me fazer força, mas... eu não tinha qualquer contracção, por isso, limitei-me a olhar para ela sem saber o que fazer. Ela volta a mandar-me fazer força e eu aí viro-me para a mais novinha, que estava ao meu lado e perto da máquina do CTG e pergunto-lhe se estou a ter alguma contracção. Apesar de tê-las sentido todas até à altura, podia ser que as tivesse deixado de sentir com a excitação do momento. Mas não, ela disse-me que não e tentou dizer isso à outra, mas nesta altura esta já ia lançada num discurso sobre como já tinha tido 2 filhos mas que agora não podia fazer força por mim e sobre como já tinha visto que eu não ia conseguir nem queria colaborar, e, por isso, não ouviu nada.

Fiquei estúpida a olhar para ela, a pensar que ela só se podia estar a passar, mas entretanto, comecei a sentir a chegada de uma contracção e comecei a fazer força, ao que ela me pergunta muito bruscamente o que é que eu estou a fazer. Obviamente, paro repentinamente e ela então diz-me para continuar, que tenho de fazer a força seguida e não só aos bocadinhos... :-S

Pois, eu estive sempre bastante calma, até porque tentei não ter grandes expectativas em relação ao parto, e assim, também não tinha grandes receios. A única coisa que eu esperava era poder confiar por completo na equipa que me ia guiar através do parto e poder contar com ela para me acalmar caso me enervasse. Em vez disso, essa enfermeira sozinha, porque a novinha, coitada, era o 1º dia ali e mal se atrevia a falar, conseguiu "desacalmar-me" por completo. Não que eu tenha ligado aos "não vai conseguir" e "não quer colaborar" dela (apesar de ela os dizer para aí de 10 em 10 segundos), mas porque ela me mandava fazer força aleatoriamente, sem se dar ao trabalho de confirmar se eu tinha alguma contracção ou não, e, de facto, a maior parte das vezes, não tinha mesmo. Tentei dizer-lhe alguma coisa, mas não conseguia falar. Tentei ignorá-la e só fazer força quando sentia que podia, mas não era fácil. Ainda por cima, não podia olhar para o maridão, o que me teria voltado a acalmar grandemente, porque numa das vezes em que o fiz, ela disse-me que se eu continuasse a olhar para ele o mandava embora. Com medo que ela o fizesse, tive então de fazer força também para resistir a olhar para ele no intervalo das contracções.

Entretanto, passado algum tempo nisto, ela disse que elas iam sair um bocado, mas para eu continuar a fazer força, porque ela já tinha visto que eu "só fazia força quando queria e não quando ela mandava" (enfim, sem comentários). O maridão perguntou-me então como eu estava e porque é que não fazia força quando ela me dizia. Expliquei-lhe o porquê e ele ficou ainda mais furioso. Sim, porque ele já estava com vontade de dizer umas boas à enfermeira por causa dos comentários infelizes e agora ainda pior. No entanto, ele não queria dizer nada e estava a controlar-se para ela não se "vingar" em mim nem na nossa filhota.

Não devem ter demorado muito (a julgar pelo facto do maridão não ter saído disparado do quarto à procura delas) ;-) e quando voltaram, felizmente, vinham acompanhadas de mais 4 enfermeiras. Espreitaram todas lá para dentro :-S, todas confirmaram que já se via a cabecinha, mas que ainda estava muito subida, e uma delas veio dar-me a mão do lado esquerdo (o maridão estava à direita) enquanto outra se colocou ao lado dele, perto da minha barriga. As 2as que me estavam a seguir vestiram as batas de plástico e colocaram máscaras e, felizmente, deixei de ouvir por completo a "passada" porque a que estava ao meu lado colocou uma mão na minha barriga para sentir as contracções e foi-me dizendo para fazer força quando lá vinha uma. Concentrei-me apenas nela, mas, apesar de tudo estar a correr melhor nesse sentido, a minha lindona nunca mais descia e eu estava a começar a ficar preocupada com ela.

Finalmente, chegaram 2 médicos (1 médico e 1a médica) e depois de algum tempo a observar a progressão, começaram a perguntar-se se a menina não estaria "invertida". Foram ver e estava mesmo. Então, o médico explicou-nos, a mim e ao pai, que ela em vez de estar a olhar para cima, estava a olhar para baixo e que ia precisar de ajuda, ia precisar de ser puxada para fora porque não estava a descer. Fiquei um bocado triste então, até porque isso significava que o pai tinha de sair.

Desejei que nada de mal acontecesse à minha pequerrucha e depois concentrei-me novamente na enfermeira ao meu lado e na voz do médico que não conseguia ver. O pai saiu por volta das 12:50, e, a partir daí, achei tudo muito rápido. O médico ainda esperou até à última antes de usar a ventosa e depois os fórceps, mas teve de ser mesmo assim. :-(

Eram 13:04 quando a minha pequenita foi "puxada" e "empurrada" cá para fora. Apesar de tudo, e da violência das palavras, esse movimento até foi bastante suave e a sensação muito boa. Colocaram-na em cima da minha barriga, e a "tal" enfermeira não me deixou tocar-lhe, "para não ficar com as mãos cheias de sangue", e afastou-me a mão (mais uma vez, sem comentários). Na altura, no entanto, só me preocupava com o facto da minha menina não se estar a mexer e perguntei porquê. Ninguém me respondeu, mas passados alguns instantes, levaram-na para debaixo da lâmpada na mesinha que já estava preparada para a receber e todas as enfermeiras menos uma e mais o pediatra de serviço, que tinha sido chamado entretanto, foram para perto dela e começaram a tratar dela. Eu só a conseguia ver aos bocadinhos, por entre as batas verdes e brancas do pessoal do hospital. Consegui ver que ela era linda, tal como já tinha visto quando a puseram sobre a minha barriga, mas o importante agora era saber se ela estava bem. Perguntei-o várias vezes e uma enfermeira ou outra lá me vinham dizer que sim, que estava tudo bem, que aquilo era normal, mas não foram lá muito convincentes. Minutos depois ouvi-a gemer, e logo a seguir, passaram-na para uma incubadora de transporte e levaram-na embora.

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