quinta-feira, julho 10, 2008

O Pai Natal (e outras figuras)

Provavelmente por ter visto em algum episódio do Ruca ou afins, aqui há uns dias, a piolha estava a fazer alguma asneira de que já não me lembro e quando lhe chamo a atenção, diz-me: "Se a Daniela não se portar bem, o Pai Natal não traz prendas..."

Dilema: aproveito a deixa e deixo seguir? Não fui capaz de o fazer totalmente. Como quero preservar a história do Pai Natal, porque acho giro, lá lhe expliquei que sim, o Pai Natal só dá prendas aos meninos que se portam bem, mas que ela não se devia portar mal principalmente porque a mãe e o pai ficam tristes. Amamo-la sempre (tive que a descansar disso porque ela perguntou logo), mas ficamos triste se ela se portar mal. (Até porque o "portar mal" actual são principalmente fazer coisas potencialmente perigosas.)

De vez em quando lembra-se e lá volta a repetir a cena do Pai Natal (muitas vezes com a adição de também não ter árvore de natal :-S). E eu tento repetir-lhe sempre a parte de mim e do pai. Para quê cansá-la com muita conversa quando ela parece já saber a lição? Porque não gosto de delegar a educação da minha filhota a estranhos ou entidades imaginárias ou não. Pronto.

Dito assim, isto parece um bocado paranóico, mas é que já vem de longe, pelo menos desde o tempo em que trabalhei num parque de diversões e contactava com crianças e pais diariamente. E via muita coisa, e de algumas não gostava nada. Não me metia a não ser quando era directamente implicada no assunto, porque cada um sabe de si, mas não gostava e isso não mudou nada.

Por exemplo, não gostava quando diziam às crianças que não podiam andar porque eu ou os meus colegas não deixávamos. Não era por as crianças nos olharem como se fossemos "maus" (até porque quando elas me vinham perguntar directamente porque é que eu não as deixava andar e eu respondia - adequado à idade de cada um - que deixava andar qualquer pessoa que tivesse um cartão carregado porque esse era o meu trabalho, mas os pais é que sabiam se eles podiam andar ou não, os pais lançavam-me olhares bem piores), mas porque também via pais que explicavam as suas razões aos seus filhos e estes entendiam (quase) sempre tudo e resignavam-se (quase sempre) bem, e achava/acho esta maneira muito, mas muito, melhor.

O que eu odiava mesmo era quando tentavam insultar a inteligência das crianças, dizendo que o equipamento onde elas queriam andar estava avariado e fazendo-nos sinal para nós dizermos que sim, estava. Desculpem, mas quando me faziam isto era sempre ou quando o equipamento estava mesmo a funcionar, ou quando havia crianças lá dentro e o equipamento estava a segundos de funcionar. Logo, a minha resposta era: "Não, não está nada avariado!" A sério, o que é que eu podia dizer: "Está avariado sim, parece-te que está a andar, mas não, isso és tu a ter alucinações...." ou "Está avariado, pois, aquelas crianças ali dentro fazem parte da decoração e, quando parecer que isto está a andar, são só elas que se estão a mexer..."

E o que eu me passava quando davam a entender que as crianças não são pessoas! "Quanto custa isto?" "Blá, blá, blá por pessoa." "Ah, então as crianças não pagam?" "Pagam, é por pessoa, independentemente da idade." "Então, mas se é por pessoa, as crianças não deviam pagar..." E havia quem dissesse mesmo (muita gente) com um ar indignado: "Mas as crianças não são pessoas!..." Só me apetecia dizer-lhes que, sendo assim, não era permitida a entrada a animais, nem a extraterrestres, pelo menos até conhecermos as suas intenções...

Puf, puf... Isto tudo só para dizer que não gosto de dizer: "Se não te portas bem, vem o polícia e leva-te" e coisas que tais. Se a Daniela não se portar bem, o pai ou a mãe tentam agir de acordo com a asneira, e mais ninguém (de fora, pelo menos) é chamado para a conversa. É claro que isto não é fácil, nada. Aliás, fácil, fácil é dizer precisamente essas coisas e eu, que não sou perfeita nem nada que se pareça com isso, e que não gosto disso, já as disse. Já as disse, com certeza, em vezes que não me apercebi; já as disse e, apercebendo-me, tentei modificá-las para o que acho bem.

A última vez foi quando vinhamos a descer as escadas e ela gritou (porque faz eco e é muito giro). Depois calou-se, olhou para a porta do vizinho, e disse: "A Daniela não pode gritar porque o vizinho não quer." E eu engoli o meu pronto: "Pois não!" e lá passei à versão longa: " Não sei se o vizinho não quer porque ele nunca me disse nada, mas eu não quero que tu grites nas escadas porque o vizinho pode estar a dormir ou a descansar e depois acorda ou assusta-se..."

Era mais fácil ter aproveitado a deixa? Era, mas acho que assim também se aprende a respeitar os outros, e sem ser preciso ter medo deles. (Acho, que nisto de ser mãe eu, no fundo, no fundo, não sei nada.) ;-)

(Bolas, um post tão grande para, no fundo, dizer tão pouco... Eu devia era de ir para a política....)

(Se alguém chegou até aqui, desculpem ;-), isto é mais para eu me lembrar...)

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